27.11.07

As eleições para a assembleia estatutária da UM

1. Não aderi à Plataforma Eleitoral (lista A), para que todavia fui convidado, porque ela exprime e concretiza a estratégia desta Reitoria para a Universidade do Minho, uma estratégia em que me não revejo: a de uma Universidade organizada de cima para baixo, fortemente hierarquizada, blindada ao debate interno pela presença maciça de Presidentes de Escola e de outras figuras institucionais, designadamente um Vice-Reitor e o Vice-Presidente do Conselho Académico.

2. Uma lista constituída nos termos em que está constituída a lista A repete a lógica do Conselho de Escolas: os Presidentes obedecem à voz de comando do Reitor, em silêncio submisso e reverente, caucionando uma política sem grandeza, porque autoritária e fundada num entendimento restritivo de ciência e tecnologia, que tem esmagado a ideia de cultura e de experiência do pensamento e da vida na Universidade.

3. A lista A disfarça mal um programa oculto. Tem os Estatutos já elaborados, ponto por ponto, que homologam o actual funcionamento da Universidade e a sua actual prática de governo. Esperam os seus inspiradores que o período de campanha eleitoral passe depressa, sem darem muito nas vistas e sem terem que se explicar muito. O ideal seria passarem mesmo despercebidos, sem dizerem sequer ao que vêm, uma vez que já estão ao leme da Universidade. Que chatice ser preciso jogar o jogo da democracia em oito dias de campanha! Mas esse mal necessário passará depressa. E mais depressa passará com umas espertezas regimentais, mais umas esquivas ao confronto, umas manobras dilatórias, e com os habituais ruído, morosidade e bloqueamento da rede interna de informação. Sem dúvida, para a lista A, o calado é o melhor. E estarão calados o mais que puderem.

4. As ideias da lista A ainda poderiam iludir-nos (já me iludiram no passado), mas de modo nenhum as suas práticas. A lista A também invoca os valores da democracia e da cidadania, e reclama-se mesmo de uma «liberdade incondicional». E não é que o nosso Reitor, dirigindo-se à Academia, a mobilizá-la para as eleições que se avizinham, caracteriza a nossa Universidade como «um centro de pensamento e de debate»?! Estamos entendidos sobre o que se joga nestas eleições. Ideias, sem dúvida. Mas como os tempos são sobretudo de mistificação, o que devemos avaliar mesmo são as práticas e as atitudes.

Em conclusão, a lista A não tem outra ideia que não seja a da Reitoria, que dispensa a Universidade de se pensar a si mesma e que de bom grado nos dispensaria a nós, professores, de entrarmos nesse debate. O que se passa, no entanto, é que somos nós quem deve dispensar aqueles que por nós querem cuidar daquilo que a mais ninguém do que a todos nós diz respeito.
A lista A cauciona, é um facto, uma ideia anã de Universidade, que se esgota numa folha de cálculo e numa esquadria de interesses, muitos dos quais mal esclarecidos.

Cada época tem de tentar de novo, tem de tentar sempre, resgatar do conformismo a tradição. E foi pelo facto de a tradição universitária se ter instalado no conformismo, que a Universidade se vê hoje obrigada a questionar a tranquilidade do seu modo de ser e das suas rotinas.
Todos somos feitos de expectativas, resistências, tradições e traições. Somos um lugar de afectos e de alianças. Mas é sempre de ida a nossa viagem. No que conta, de facto, não existe retorno numa vida. Só há ida. É sempre de ida o caminho que nos espera.

Aqui está a razão que me leva a esperar para a minha Universidade um caminho novo: o caminho que a faça forte da força das suas Escolas; o caminho de uma autêntica comunidade académica, empenhada em participar criticamente nas decisões da sua vida colectiva; o caminho, enfim, que lhe permita elaborar uns Estatutos que constituam um instrumento capaz de prevenir as muitas ameaças que a espreitam e de escorraçar os muitos fantasmas que a povoam.


Moisés de Lemos Martins

(Colocado na rede interna da Universidade do Minho, a 27 de Novembro de 2007)