19.11.07

A voz do silêncio

Retomo do Reitor da Universidade de Lisboa, Professor António Sampaio da Nóvoa, um conjunto de considerações sobre a Universidade portuguesa, que me parecem adequadas à actual situação da Universidade do Minho, que tem pela frente a exigente e mobilizadora tarefa de pensar a sua nova ordenação estatutária.

O RJIES corre o risco de se converter numa mera reforma ‘orgânico-burocrática’”.

A Universidade “é o lugar onde se cultivam todos os saberes, é uma multiversidade. […] Quando se afunila o seu alcance, reduzindo-a a visões estreitas de ciência e tecnologia, perde-se o seu sentido como espaço de cultura, como experiência do pensamento e da vida”.

Não podemos deixar de erguer a voz “em defesa da Universidade de todos os saberes e de todas as culturas, em defesa de uma Universidade de pensamento crítico, que vive da sua universalidade, isto é, da sua abertura ao mundo”.

É preciso pôr no seu lugar, tal como aconselhou Eça no seu tempo, “os fanfarrões da sabedoria, do milhão ou do músculo”.

O esforço de renovação obriga a “eliminar permanentes entraves burocráticos, a voragem regulamentadora que nos asfixia. É preciso traçar metas, confiar nas instituições, avaliá-las e responsabilizá-las. Não é preciso tirar-lhes a iniciativa, tudo querer controlar através de despachos, ordenações e directivas”.

Precisamos de “construir órgãos internos que assegurem uma participação autêntica de estudantes, docentes e funcionários na vida da Universidade”.

O Reitor da Universidade de Lisboa sabe, entretanto, que “o medo ensaia um regresso às nossas instituições”.
Sabe que “o silêncio corrompe” e que “o silêncio absoluto corrompe absolutamente”. Por essa razão reclama a presença na Universidade “de vozes livres e independentes, de vozes justas, que nos ajudem a construir uma Universidade mais forte, mais dinâmica e inovadora”.

Sampaio da Nóvoa, 8 de Novembro de 2007, Discurso de Abertura do Ano Académico 2007/2008.