31.3.06

Candidatura

A toda a Universidade do Minho

Caros docentes, funcionários e alunos,

Decidi apresentar a minha candidatura a Reitor da Universidade do Minho. Trago-vos uma dupla inquietação. Uma inquietação académica. E também uma inquietação cívica. Desta dupla inquietação faço a razão do meu combate.
A grandeza de uma Universidade está na largueza do seu debate académico. E uma grande Universidade tem um projecto e uma estratégia que exprimem a sua diversidade. E tem mesmo projectos alternativos.

É esta cultura académica que eu gostaria de ver desenvolvida na minha Universidade. Por essa razão, é meu propósito debater o projecto que há quatro anos está a ser executado entre nós, sem que alguma vez o tenhamos podido discutir. Mas, do mesmo passo, vou procurar concorrer para a afirmação de um projecto alternativo.

Estamos a dois escassos meses da eleição do Reitor. Para a nossa Universidade este é um momento decisivo. Nestes últimos anos tenho passado pela dolorosa experiência de ver a minha Universidade atropelada e vergada num sentido que contraria as minhas mais fundas convicções de académico. Não posso furtar-me à obrigação de travar convosco este combate de urgência sobre o que verdadeiramente importa na nossa Universidade.

A Universidade do Minho precisa hoje de centralidade académica. Afastada dos seus eixos de sentido específicos e a funcionar em eixos de sentido que não são os seus, a nossa Universidade está desorbitada. Ora, uma Universidade desorbitada é uma Universidade equivocada. E entregue à pressa do tempo, apenas pode correr esgazeada.

Disponho-me a travar este combate para ajudar a recolocar a nossa Universidade na sua órbita, de modo a que ela tenha desafios verdadeiros, e não desafios desencontrados. As nossas vitórias não podem ser vitórias que resultem do equívoco de uma cultura autoritária e de pensamento único.

1. Numa grande Universidade todas as Escolas devem ser estratégicas. E é um engano imaginar que apenas algumas Escolas representam prioridades sociais e académicas.

2. Uma grande Universidade é feita da diversidade das suas Escolas. Procura a exigência, mas é solidária. Conduz-se por regras claras, e não por práticas crípticas e opacas.

3. Uma grande Universidade faz-se forte das ideias das suas Escolas. Outra coisa é o deserto e a aridez, o diktat, os tiques censórios e a coacção.

4. Uma grande Universidade tem um projecto e uma estratégia participados. Não é um infindável tabuleiro para mind games, com forças que há que anular e peças encaixadas à força, numa constante hemorragia das melhores energias, sendo o nosso destino permanentemente jogado na roleta russa, ao azar de desafios equivocados.

5. A única excelência de uma grande Universidade é a excelência dos seus alunos, docentes e funcionários (técnicos e administrativos), e também a excelência dos seus projectos pedagógicos e científicos. É duvidosa a excelência de um aparelho de quebrar vontades, a excelência de um sistema de controlo e vigilância, e a excelência de uma engrenagem de propaganda.

6. Uma grande Universidade tem pensamento, e não sacrifica a um qualquer algoritmo cabalístico. Numa grande Universidade o pensamento faz-se dança, e nunca o rolo compressor que tudo aplaina numa folha de cálculo.

7. Uma grande Universidade tem imaginação. E a imaginação faz-se força e vida colectiva, e não a fantasia de um vício solitário.

8. Uma grande Universidade tem uma relação sadia com os media, afirma-se no espaço público, abre as portas à sociedade e faz-se respeitar pelo Estado. Não ergue muros contra o tempo, nem anda de mal com o mundo, não agita o fantasma da incompreensão do Governo, nem vive lamentando azares.

9. Uma grande Universidade faz da internacionalização uma ideia criativa e mobilizadora, e não uma improdutiva e pouco edificante soberba, nem um tique mimético de pássaro desplumado em adejo vão.

10. Uma grande Universidade inscreve-se nos dinamismos regionais e locais, participa neles e encoraja-os, fomentando mesmo a ligação ao tecido empresarial. Mas é um equívoco imaginar que cabe à Universidade liderar a sociedade civil.

Caros docentes, funcionários e alunos,

É meu propósito criar condições para que possa ser feito o exame da nossa política universitária, que há quatro anos se esgota em equivocada estratégia de gestão. Mas fazer jus à Universidade do Minho, à sua história e à sua grandeza, impõe-me também a obrigação de trabalhar convosco num projecto alternativo. É esse o combate de urgência que me disponho a travar e para que
vos convoco.

As melhores saudações a todos.

Moisés de Lemos Martins

Nota: Texto enviado pelo candidato para a UMNet ao início da tarde de hoje.

Abertura

Este é o weblog da candidatura de Moisés de Lemos Martins à Reitoria da Universidade do Minho.
Presidente do Instituto de Ciências Sociais desde Janeiro de 2004, o candidato é ainda o Director do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) desde a sua fundação, em 2002, e director da revista Comunicação e Sociedade desde 1999.
Co-fundador da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom), em 1997, Moisés de Lemos Martins é também o seu presidente desde 2005. Esteve na Comissão Científica e/ou na Comissão Organizadora dos seus quatro Congressos: em Lisboa (1999 e 2001); na Universidade da Beira Interior (2004); na Universidade de Aveiro (2005).
Esteve presente, de igual modo, na fundação da Lusocom (Federação Lusófona de Ciências da Comunicação), com outros representantes da Sopcom, e também com representantes da Intercom (Associação Brasileira de Ciências da Comunicação) e com representantes africanos, de Angola e Moçambique. Foi o Presidente do III.º Encontro Lusocom e da sua Comissão de Programa, que se realizou em Braga, na Universidade do Minho, em Outubro de 1999, tendo estado na Comissão Científica e/ou na Comissão Organizadora de todos os outros: na Universidade Lusófona de Lisboa (1997); na Universidade Federal de Sergipe (1998); de novo, no Brasil, na cidade de S. Vicente (2000); em Maputo (2002); na Covilhã (2004). Participa na organização do próximo Congresso, que ocorrerá em Santiago de Compostela , em Abril de 2006.
Participou na Organização dos Congressos Ibéricos de Ciências da Comunicação, organizados pela Sopcom, em parceria com a comissão de decanos espanhóis desta área científica. Realizaram-se dois: o primeiro, em Málaga (2001); o segundo, na Covilhã (2004). Participa na organização do terceiro, que ocorrerá em Sevilha, em Novembro de 2006.
Moisés de Lemos Martins é professor catedrático, de nomeação definitiva, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, desde Julho de 1998.
Licenciado e mestre em Sociologia, pela Universidade de Ciências Humanas de Estrasburgo, doutorou-se nesta mesma universidade em Ciências Sociais (na especialidade de Sociologia), no ano de 1984.
Foi professor de Sociologia na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa), de 1986 a 1988, e também na Universidade da Beira Interior (Covilhã), de 1988 a 1990. Nesta última universidade, coordenou o Departamento de Ciências Sociais, foi Director do Curso de Sociologia, criou a licenciatura de Ciências da Comunicação e fundou a revista de Ciências Sociais, Anais Universitários, de que foi o primeiro Director.